20/02/2008

Esquecimento

Esse de quem eu era e era meu,
Que foi um sonho e foi realidade,
Que me vestiu a alma de saudade,
Para sempre de mim desapareceu.

Tudo em redor então escureceu,
E foi longínqua toda a claridade!
Ceguei... tateio sombras... que ansiedade!
Apalpo cinzas porque tudo ardeu!

Descem em mim poentes de Novembro...
A sombra dos meus olhos, a escurecer...
Veste de roxo e negro os crisântemos...

E desse que era eu meu já me não lembro...
Ah! a doce agonia de esquecer
A lembrar doidamente o que esquecemos...!

Florbela Espanca - Charneca em Flor
In "Sonetos"

1 comentário:

Anónimo disse...

A Florbela Espanca tem sonetos lindissimos, que nos tocam bem cá dentro nos momentos em que estamos mais em baixo. Tb passei pela fase de procurar esses sonetos... o pequeno senão é que os que me chamavam a atençao eram mais do que apenas tristes. Eram depressivos e quase vazios de esperança... tas proibida de ler esses!! Jinhos grandes